CGTP e a sua Ode ao 1º de Maio em plena Pandemia

  É conhecido dos meus caríssimos leitores que todos os anos, no 1º de maio, a CGTP sai à rua de forma a manifestar e reclamar mais direitos para os trabalhadores. Quantas e quantas vezes não vimos a CGTP em conjunto com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português a manifestarem por condições laborais decentes, salários melhores... e o fim do Capitalismo.

1º de Maio. CGTP vai reunir centenas de sindicalistas, unidos “mas ...
1º de Maio de 2020

  Estranha-me ver os trabalhadores a pedirem o fim do único sistema que, de facto, permite que estes tenham um salário bom e que lhes permita viver. É certo que existem patrões que são uns mal-feitores e que só veem lucro à frente, contudo, esses empresários correspondem a uma percentagem minúscula de toda a classe empresarial Portuguesa. Se os trabalhadores, infelizmente, não têm salários melhores, única e exclusivamente ao actual governo o devem, pois é este que não permite que as empresas consigam ter margem de lucro suficiente para manter todos os postos de trabalho e ainda subir salários aos trabalhadores que todos os dias se levantam para assegurar o bom funcionamento de todas as empresas em Portugal, já para não falar da fatia absurda que o Governo retira em impostos directos, mais os indirectos aos próprios trabalhadores.
  Contudo, não é disto que hoje venho falar. Venho antes expor o porquê de ser irresponsável, leviano, ofensivo e até infantil que a CGTP comemore o 1º de Maio nas ruas em época de Pandemia.
  Antes que me acusem de ser um facho/capitalista selvagem/explorador desumano, tenho a dizer que sou o primeiro a dar a razão aos trabalhadores quando estes a têm, já para não falar que reconheço enquanto liberal que sou, que o operário tem todo o direito a ter uma vida digna e viver num país que consiga garantir a qualidade de vida que todos merecem. Contudo, há-que ser racional e não nos podemos deixar levar por infantilidades e irresponsabilidades como fazer o 1º de maio nas ruas às três pancadas colocando centenas de pessoas em risco e, imagine-se, trazer pessoas de concelhos diferentes quando está expressamente proibido fazê-lo. Vivemos em tempos de pandemia, meus caros leitores. Isto é assassinar a sangue frio o senso comum e a própria ordem do governo.
   Chega até a ser ofensivo que se realize este evento e o motivo é o mais óbvio e cristalino. Portugal está em confinamento. Milhares não puderam dizer adeus aos seus entes queridos que morreram durante a pandemia, milhares não puderam estar com as suas famílias na Páscoa, milhares não puderam celebrar o seu aniversário com os que mais amavam, entre tantas outras coisas, mas a CGTP, a grande intersindical do PCP pôde fazer uma manifestação a reclamar direitos. É asqueroso ver um sindicato a reclamar direitos na altura em que vivemos, quando ninguém teve direito a estar com quem mais amava ou a dizer adeus a entes queridos, quando temos médicos e enfermeiros a lutar todos os dias, horas e horas a fio, para garantir que Portugal sobrevive a esta pandemia e não podem ver os seus filhos porque têm medo de estar contaminados e de transmitir o vírus. Ver pessoas como Jerónimo de Sousa, no auge dos seus 73 anos de idade, a dar um exemplo irresponsável a todos os seus camaradas, participando desta manifestação, tudo em prol de um jogo político que, para o PCP, se avizinha com um final amargurado, faz me questionar o seguinte: Quem são a CGTP e o PCP para se sobreporem tanto as ordens do governo, como aos próprios Portugueses? Não são mais do que ninguém, mas teimam em achar que sim e que podem fazer tudo à sua vontade, sem sofrer as consequências disso. A infantilidade do PCP e da CGTP impressiona-me. Desrespeitam todos os Portugueses, as ordens do governo e ainda acham-se no direito de o fazer, tudo isto para terem destaque político.
   Ao PCP digo: estão pelas ruas da amargura e mais tarde ou mais cedo conhecerão o vosso fatal destino. Mas enquanto sobrevivem, dêem-se ao respeito e mostrem a maturidade que vos é exigida enquanto um dos partidos fundadores da nossa democracia.
   A CGTP peço: enquanto representantes da classe operária, deixem-se de joguinhos tolos, sejam responsáveis e não coloquem centenas de trabalhadores, que vocês dizem defender, em perigo. Vocês não estão acima da lei, nem tão pouco mais ou menos estão acima da actual prioridade neste momento que é combater esta praga. 
  À semelhança da UGT, sindical Socialista, poderiam ter assinalado esta data através dos meios hoje existentes, como as redes sociais ou o próprio tempo de antena, mas não nas ruas, pois ao fazê-lo estão a dar uma imagem errada aos cidadãos portugueses, de que já podemos sair à rua sem qualquer risco e estão a colocar em causa a vossa imagem, honra e dignidade enquanto a maior sindical deste país.
  Porém, existe algo que mais me preocupa e deixa chocado para alem de tudo o que já referi. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi conivente com tudo isto, o Primeiro-Ministro, António Costa, nada disse e o ministro da administração interna Eduardo Cabrita ainda se deu ao descaramento de elogiar o comportamento da CGTP. Como se já não bastasse ver um partido e uma intersindical a acharem se acima da lei, o governo cala e consente e um ministro ainda dá graças à manifestação. Aqui temos, caros leitores, mais uma prova de que o Governo PS só quer saber como se vai manter no poder e de que o Presidente não é capaz de condenar a manifestação. Mas porquê? Terá medo de perder popularidade? Tem medo de não ser reeleito? Sr. Presidente da República, descanse que não perderá popularidade por fazer o que é certo, aliás, garanto-lhe eu que perdeu mais popularidade agora do que perderia caso tivesse condenado a manifestação.
  Termino dizendo: Deixem as vossas Odes ao 1º de maio e a tudo o que representa para outra altura, porque agora meus caros, é tempo de combater uma pandemia, e não é através de reivindicações laborais que o vírus vai ser morto, mas sim através de consciência, lógica e maturidade, para se saber em que condições poderemos sair à rua, sem colocar em causa o trabalho até agora feito.


02.Maio.2020

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